Havia dias que gostava de imaginar o nosso futuro. Claro que, como todo o ser humano que vive numa realidade adocicada pelo amor, imaginava a nossa realidade futura juntos como era justo ser, e como sentia que seria.
Achava sempre que a intuição e o coração não me haviam de enganar, e que todas as estrelas que ditavam os nossos nomes juntos estavam certas e formavam a mais bonita das constelações. E sem dúvida que uma das coisas que mais gostava em toda a magia que havia em nós, era as nossas conversas cheias de planos ternurentos, cheios de sonhos que só quem vive cego pelo amor acredita.
É uma das coisas que ainda relembro com fascínio, a maneira de me cativares. Nunca conseguia pensar de forma prudente, não via as mais simples coisas que hoje me passam pela frente dos olhos, da cabeça e do coração e me remetem para o tempo em que nunca consegui ver o óbvio.
Imaginava que um dia teríamos uma casa térrea, só com um piso, daquelas enormes em que não há escadas para atrapalhar. Imaginava o nosso quarto cheio de branco, com uma pureza difícil de alcançar, e cortinados suficientemente transparentes para permitir a infiltração do sol, e suficientemente opacos para trazer a privacidade de palavras sussurradas ao ouvido por detrás das portas fechadas.
Sabia que a nossa cama seria de docel, e os lençois de linho branco. Lá fora no meio do flamejante jardim verde residia uma piscina, e a água reflectia na nossa varanda á noite, o que me permitia ver o teu meio rosto na penumbra. Todos os nossos filhos haviam de ser criaturas dos deuses, com caracóis a povoar a cabeça e olhos adocicados pela ternura que nunca lhes havia de faltar. E tu, tu serias sempre o mesmo, nunca havias de perder o mesmo ar, o mesmo sorriso e a mesma doçura dos olhos.
Nunca havias de ter barriga como os outros homens que se sentam a ver o porto com o comando na mão, e uma lata de cerveja em cima da interminável barriga. Tu não serias assim. Tu havias de ser sempre lindo com a mesma pele luminosa e com cheiro forte e característico, com os mesmos braços que me rodeavam a toda a hora e o mesmo corpo bem desenhado e estruturado. Tu, havias de ser sempre carinhoso.
Quis tanto acreditar que fosse assim, quis tanto acreditar que seria aquela a minha vida até ao fim da vida. Eu sei que é esta característica ingenuidade que nos faz amar com mais força, e mover o mundo inteiro para o objectivo de alcançar uma vida a dois que nunca percebemos ser tantas vezes inalcansável.
A verdade é que quando te foste embora continuava a aparecer-me a casa térrea nos sonhos, e o mesmo vestido leve e quase transparente, mas os lençóis de linho nunca mais ouviram as palavras « Eu amo-te ».
sexta-feira, 5 de dezembro de 2008
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